sábado, 8 de dezembro de 2012

Pecado Infernal


Sinto o sangue gotejar sobre Mundos imersos
cada traço de um rosto esbelto é relembrado
sobre as águas límpidas de um deserto submerso.
Toda a alegria que a vida reservou
em escassos segundos se transformou
na verdade surreal de um suspiro incompleto.

Distraí-me, perdi a batida
pela face vai-me escorrendo o sangue da ferida.
O sorriso deixou de fazer parte do dia-a-dia
desde que conheci a tua cobardia.
Recuo no instante da despedida
para que a saudade seja sentida.

A morte aproxima-se
e a sorte não me persegue
sinto que o fim está para breve.

Adormecerei no dia em que a noite me acordar
aí serei livre para lutar.


Ricardo Tavares*

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A natureza da Física

O barco flutua
entre sensações abstractas
relembra o passado
de uma maré submersa.

Sem rumo nem horizonte
os passos são à deriva
confrontam-se enigmas
na chegada ao destino

A ambiguidade de um pensamento
remetido ao silêncio
enfurecido pela saudade
de um momento inesperado.

Sentes a morte por perto
e o sofrimento é impiedoso
perdes a batida
prevês um final desastroso.

R'Tavares

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

(Des)Orientado


O verde camuflante
de um tronco alucinado
enlouquecido pelo fumo
de uma chama cintilante.

O leito segue para sul
alterando a rota inicial
persegue-se um destino abandonado
por um passado mal estruturado.

Os olhos querem fechar
mas o medo da escuridão
não permite continuar,
até ao eterno suspiro.

R'Tavares

Do amanhecer ao anoitecer


Entre as persianas sinto
um raio solar matinal
penetrar no meu olhar
desvendando o sonho
de uma noite dominada
pelo silêncio perturbador
de um flash luminoso.
O vento... O vento que me persegue
e acompanha em momentos de solidão
percorre a minha face
lapidando-a cuidadosamente
embebecido na chuva cruel
que outrora submergia
pequenas cinzas
resultante de um passado
dominado pela ousadia
demonstrada quando a maioria
temia um desfecho doloroso.
Agora que o pôr-do-sol
se aproxima sob o olhar atento
de duas pequenas pedras reluzentes
como se de pequenas safiras se tratassem
escuto o eco das ondas
entre rochedos lascados
pela violência de um bater profundo.
Subitamente o nevoeiro
apodera-se da noite
dissipando qualquer tormento.

R'Tavares*

Faz-te ouvir

Entre estudos fracassados
e vontades delinquentes
Sinto um futuro arrasador
nas mãos de quem governa.
As noites em claro
pensando em becos sem saída
Profecias em vão
de quem fala de coração.
Desigualdades sociais
em democracias sazonais
caracterizam o dia-a-dia
de quem luta contra esta cobardia.

Vozes do além façam-se ouvir
o povo unir-se-á para o que está para vir.
Constantes desavenças
tristezas e poucas crenças
estampado no rosto de quem luta
por uma melhor conduta.

Expresso-me em versos sem força
para atingir quem governa
Mas como alguém disse
"O sábio nunca diz tudo o que pensa,
mas pensa sempre tudo o que diz".


                                                             Ricardo Tavares

Insónia


Vira de um lado, vira do outro
entre pensamentos a fome aperta
já me senti assim mas desta vez não resisto
Ouço tilintar os ponteiros do relógio
seduzido pelo nevoeiro matinal
no cimo da torre da igreja
Poucos minutos separam a noite da claridade
O chilrar dos pássaros faz-se ouvir
nos ramos que ornamentam esta bela vista
perdida entre os pequenos raios solares
que penetram pelas fissuras
de uma janela mal fechada.
O cansaço apodera-se depois de um longo dia
mas o sono teima em não aparecer
Os galos com a crista erecta
dão os bons-dias a quem teve a felicidade
de acordar para mais um dia.
Resta-me a companhia deste pedaço de carvão
e de uma folha rasurada com ideias abstractas,
pela frente tenho mais um dia
para numa noite ao luar, recordar
junto daqueles que permanecerem intactos.



                                                                                                     Ricardo Tavares*